Os materiais como materialização de uma intenção
Os materiais e soluções construtivas adoptados no conjunto arquitectónico da Escola Francesa consolidam as intenções do projecto e uma estratégia de intervenção que assentando no respeito pelo verde existente procura tirar partido da topografia do lugar.
Nesse sentido, o granito, material de grande poder evocativo, vem servir neste caso para reforçar a ideia de um conjunto de volumes firmemente agarrado ao terreno. Inseridos no meio das árvores, e simultaneamente suportes do verde, os muros e contrafortes em alvenaria de granito rugoso dos volumes propostos parecem sugerir construções de tempos imemoriais – como tantas as que povoam o imaginário das paisagens do norte rural de Portugal. A escolha desta pedra marca assim de forma indelével o caracter do lugar a recriar.
No caso do edifício principal, o aspecto maciço das fachadas e a mancha de implantação convergem no sentido de acentuar o seu caracter autónomo; resulta assim um corpo construído ao qual não parecem alheios tipos arquitectónicos ancestrais como o bastião ou o templo. Nos pavilhões, os muros de granito definem linearmente espaços cobertos, interiores e exteriores, abertos à paisagem: uma alusão talvez às construções das eiras nortenhas. De resto, este é um aspecto cuja legibilidade vai ser reforçada por um vocabulário de formas associadas a elementos da construção tradicional – telhados e beirados, algerozes-, usadas aqui com certa rudeza.
O betão é explorado neste projecto de modo a tirar partido significativo das possibilidades tecnológicas que este material proporciona, e também, e em certa medida, das suas potencialidades de expressão plástica. De facto, é o betão que, permitindo uma maior liberdade no dimensionamento de vãos, vai ajudar à concretização de uma intenção de continuidade entre espaços interiores, mas também entre espaços interiores e espaços exteriores. Se no edifício principal, o betão se associa a uma estrutura metálica que possibilita o desenho da grande nave, já nos pavilhões, é a viga padieira de fachada que permite o desenho de vãos rasgados que se abrem a sul. O betão converte-se deste modo num elemento essencial para a implementação bem-sucedida do programa pedagógico inovador da instituição, e nomeadamente, da relação dos espaços desta com o lugar original. Então, é possível dizer que se a vontade de criação de conjunto arquitectónico integrado no lugar se faz na Escola Francesa por uma dimensão de memória e tradição com o granito, ela faz-se também por uma espacialidade de inegável modernidade através do betão.
Mas, para além destes, a opção por materiais como a madeira e ardósia aponta ainda para uma outra dimensão, mais sensorial, de percepção táctil; é nos detalhes do desenho de portas e escadas que esta dimensão melhor se evidencia. Ela é particularmente reveladora de uma outra preocupação que guiou os esforços da equipa projectista: aquela pelo mundo da criança e seu conforto.
O granito, o betão e a madeira são utilizados de forma a concretizar as intenções de integração do conjunto arquitetónico na paisagem e a fluidez dos seus espaços.
O granito usado como material evocativo da memória de construções tradicionais; volumes que revelam uma preocupação de ajuste ao terreno e uma permeabilidade visual; alvenaria sólida de granito como suporte vegetal.
As opções dos materiais e do desenho que estes possibilitam demonstram igualmente o cuidado pela adequação ao público a quem se destina privilegiando as crianças.
O conforto, por exemplo, está patente na opção de salas de aula com pavimento de taco de madeira e recreios cobertos pavimentados a ardósia.
O carácter lúdico do betão é evidenciado nos frisos gravados, no mural e nos cubos do portão de entrada.
“… em virtude da implantação adoptada, são em muito pequeno numero as árvores que será necessário derrubar, e, além disso, são todas elas de pequeno tamanho. Pela distribuição natural e livre dos seus volumes, pelo ritmo orgânico das suas linhas, que em muitos casos reproduzem em termos de arquitectura o ritmo do crescimento das plantas, e principalmente pelo emprego de diversas espécies vegetais na decoração cromática das paredes e terraços exteriores, procurou-se que o edifício não constituísse um corpo estranho no ambiente suave e acolhedor que se pretende dar ao jardim. Tendo em conta a necessidade de criar um quadro em que as crianças se sintam bem, em que a desordem e o bulício das ruas não perturbem a sua alegria descuidada, parece-nos como processo aconselhável pôr a criança em contacto com a natureza, de modo que ela, por sua própria iniciativa, seja naturalmente levada a descobrir os mistérios e belezas do mundo em que vive e de que, muitas vezes, especialmente quando habita a cidade, só mais tarde vem a ter conhecimento, quando a sua capacidade receptiva é menor, pela acumulação de imagens visuais de um mundo tantas vezes hostil.””
(Memória descritiva, Processo de Licenciamento 444/61, f3-9).