O Lugar

O LUGAR

Relação com o lugar: recriação de uma paisagem

Em Novembro de 1959 o Consulado Francês pede à equipa de arquitectos – Manuel Marques de Aguiar, Luíz Cunha e Carlos Carvalho Dias – o desenvolvimento de hipóteses de implantação para uma nova escola adequadas a terrenos de dimensões diferenciadas. Entre Novembro de 1959 e Abril de 1960 sucedem-se estudos que revelam uma proposta progressivamente ajustada ao reconhecimento da topografia e dos valores da paisagem.

A estratégia de intervenção da equipa assenta na intenção de um edifício que “não constituísse um corpo estranho no ambiente suave e acolhedor que se pretende dar ao jardim”. A recriação da paisagem vai fazer-se mediante um conjunto arquitectónico que se desmultiplica numa sucessão de objectos diferenciados. Estes volumes construídos e percursos em galeria, colocados no terreno evidenciam a estratégia clara “subordinação à topografia e árvores existentes“.

Claramente, a leitura do território feita pela equipa evolui no sentido de privilegiar a relação com a encosta e seus maciços arbóreos. Daí resulta uma formalização da proposta de intervenção que, se por um lado diminui o impacto dos edifícios na paisagem por outro explora as potencialidades da paisagem, da orientação solar e das vistas sobre o vale. Assim, a pendente “aproximadamente uniforme” que desce no sentido NO/SE é apropriada pelas “escolas” e pelos seus recreios. Reforçando ainda mais esta ligação à topografia e ao verde das árvores, os percursos são desenhados ajustando-se à pendente e de modo a promover a integração das árvores.

A plataforma contígua à rua Gil Eanes é delimitada por um muro que desenha a relação da escola com a zona residencial onde se insere. É aí que se ergue o edifício principal que, de carácter mais público e simbólico, anuncia a instituição à cidade. A sua presença parece no entanto insuficiente par contrariar o cunho marcadamente pouco urbano que é determinante na intervenção.

A Escola Francesa, na sua génese, remete para um conjunto de intervenientes que marcaram a cidade do Porto e o desenvolvimento do urbanismo em Portugal.

É Robert Auzelle (1913-1983), urbanista francês e professor no Institut d’Urbanisme de Paris (1945-1968), que a Câmara Municipal do Porto contrata em 1957 para a execução do “Plano de Melhoramentos”.

A vinda de R. Auzelle para o Porto é pessoalmente mediada por J. Sá e Melo, diretor Geral dos Serviços de Urbanização (1945-1962) e decorre dos contactos entre Manuel Marques de Aguiar e Machado Vaz, presidente da Câmara do Porto.

De facto o empenho pessoal de Sá e Melo na contratação de um urbanista estrangeiro para a Porto insere-se num conjunto de acções de incentivo ao planeamento urbano dos municípios (apoio financeiro e indicação de técnicos qualificados); enquadra-se também numa política de estudo e aplicação de soluções urbanas e paisagísticas do estrangeiro (vejam-se os relatórios de viagens de Facca Barreto, Ilídio Araújo, Marques de Aguiar).

A “mission Porto” de Auzelle prolonga-se para além dos 2 anos previstos inicialmente e é determinante na formação de uma equipa de urbanismo que integra Luíz Cunha e Carlos Carvalho Dias.

Ao longo de 1959, e partindo de um terreno de que é proprietário na rua Gil Eanes (135m de frente por 35m), o Consulado Francês desenvolve um processo de encomenda, ajuste de programa e aquisição de novos terrenos para a construção de uma escola.

É através de R. Auzelle, contratado em 1957 pela câmara municipal do Porto, que surge a proposta de M. Marques de Aguiar, Luíz Cunha e C. Carvalho Dias para a realização do projecto.

Além da encomenda, a presença de Auzelle surge também no desenvolvimento inicial do projecto, nas reuniões do consulado, assim como no escritório de Marques de Aguiar junto à Câmara do Porto.

Entre final de Outubro e Novembro de 1959 os 3 arquitectos apresentam propostas de implantação para o terreno inicial (faixa de 135 x 35m, proposta A de C. Carvalho Dias), para uma parte alargada do terreno e para a sua totalidade (propostas B1 e B2 de M. Marques de Aguiar) e para o desenvolvimento futuro da Escola (proposta C de Luíz Cunha).

Os estudos de Novembro de 1959 propõem uma ocupação quase contínua e privilegiadamente orgânica num terreno com áreas diferenciadas. Em Fevereiro o estudo associa a tipologia edificada a um reconhecimento do terreno mais aprofundado em que se destaca a oposição entre a plataforma à cota da rua (aterro criado com a abertura da rua Gil Eanes) e a encosta, de pendente contínua. Em Abril, a proposta final evidencia uma organicidade linguística e tipológica associada às duas zonas do terreno.