Programa

O  PROGRAMA

Programa e inovação nos espaços de ensino

O edifício da Escola Francesa é desenhado como um conjunto arquitetónico coerente em que formas e espaços se sucedem de modo orgânico. O programa arquitetónico está organizado a duas escalas cuja diferença vai ser acentuada pela disposição dos volumes construídos no terreno. Um edifício principal, numa posição cimeira na plataforma contígua à rua, e os pavilhões dispostos em plataformas modeladas ao longo da encosta.

No entanto, é na natureza do programa pedagógico e no questionamento dos modelos de espaços a ele tradicionalmente associados que o caracter inovador deste projeto vai conquistar maior expressão. Trata-se de uma abordagem que dá lugar à criação de espaços caracterizados por uma fluidez e flexibilidade significativas. No caso dos espaços interiores, é no desenho do ginásio que este mesmo aspeto se manifesta mais visivelmente: uma nave passível de ser convertida em salão de festas e com a possibilidade de extensão à sala de jogos por meio de painéis deslizantes.

Mas um mesmo princípio de continuidade é também patente nas relações que resultam entre espaços interiores e espaços exteriores. É o caso da biblioteca, com o desenho de um terraço sobranceiro à encosta; e particularmente dos pavilhões, com as salas de aula e seus recreios, entendidos como prolongamentos exteriores, a par de uma diversidade de espaços cobertos: galerias e alpendres ditos “préau”.

O projeto deste conjunto escolar, e em particular, a sua relação com o meio natural envolvente, denota ainda uma atenção especial à dimensão sensorial e emocional dos espaços que orienta a preocupação por encontrar soluções de desenho que, no dizer dos arquitectos, “não perturbem a alegria descuidada (das crianças)”.

Em agosto de 1960 dá entrada na Câmara Municipal do Porto o Projecto de Licenciamento da 1ª fase da Escola Francesa.

Os edifícios que a Fundação Marius Latour pretende construir no terreno que para tal adquiriu junto à rua Gil Eanes, destinam-se à construção de uma escola primária com secção masculina e feminina e de uma escola maternal (…) serviços administrativos e salão para festas e ginástica“.

A memória descritiva reflete não só uma hierarquização do programa, que destaca o carácter mais público e polivalente do edifício principal, mas também uma escola que é desenhada como um conjunto de edifícios.

A procura de espaços pedagogicamente inovadores, fluidos e com relação com o exterior e com a paisagem a sul revela-se no edifício principal no desenho do ginásio, com a nave que se converte num salão de festas até ao terraço a sul, mas também no desenho da biblioteca. “Como pormenor, convém esclarecer, pelas dúvidas que poderia suscitar a sua simples interpretação pelos desenhos, que a utilização das portas de correr e a supressão de apoios no centro da entrada principal do salão de festas teve como fim permitir qua a sala de jogos da escola maternal funcione como extensão do salão de festas em ocasiões de grande afluência de público ou como simples “hall”.

“As águas pluviais serão recolhidas dos algerozes em tubos exteriores descarregando sobre pequenas estacas e constituindo-se assim elementos decorativos apropriados a uma construção em que a vegetação tem um lugar importante no ambiente que se pretende obter. Ainda na mesma linha de utilizar profusamente as plantas e as flores, forma estas empregues como protecção solar das salas de aula do rés-do-chão. Criaram-se elementos para o seu suporte em ferro e betão em frente aos envidraçados. No verão as plantas provocarão sombra e frescura deixando passar a luz e o calor no inverno quando estiverem desfolhadas.”

As “escolas” ou pavilhões dispostos ao longo da encosta, em terraços, abrem-se sobre a paisagem a sul em espaços progressivamente integrados na paisagem: as salas de aula (1), os recreios abertos (2) e as “aulas ao ar livre” (5).

“Quer o edifício da escola primária destinado a rapazes quer o destinado a meninas foram concebidos segundo os critérios adoptados no projeto da primeira fase (…) Paredes de granito à vista com os elementos estruturais em betão igualmente aparente, coberturas de alumínio sobre isolamento térmico de cortiça, caixilharias em madeira à cor natural, e por toda a parte um cuidado grande em utilizar a vegetação como principal elemento de composição cromática dos diversos espaços exteriores.” (Memória descritiva, Processo 444/61, f3-9).

É na diluição dos limites convencionais, dos programas e dos espaços, que o projeto vai originar espaços fluidos e flexíveis que se adaptam à topografia e integram as árvores existentes.

A relação entre salas de aula interiores e salas exteriores, entre cobertos, “préaus” e galerias não é, apenas, uma questão formal mas revela uma intencionalidade pedagógica no desenho dos espaços.

Em 1967 é integrado um novo pavilhão na zona mais elevada, e arborizada, da encosta. “Como consequência da última reforma do ensino primário surgiu a necessidade de ampliar as instalações atualmente existente. Porque esta parte de destina a formar conjunto com os blocos já existentes, o projeto segue, nas suas linhas gerais, a arquitectura daqueles (…) Introduziu-se, no entanto, um pequeno número de alterações”. (Memória descritiva, Processo 444/61, f3-9).